segunda-feira, 1 de março de 2010

AS BEM-AVENTURANÇAS VI

(A visão wesleyana da vida autêntica diante de Deus)

(Mt 5.13-16)
“Vós sois o sal da terra; ora, se o sal vier a ser insípido, como lhe restaurar o sabor? Para nada mais presta senão para, lançado fora, ser pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder a cidade edificada sobre um monte; nem se acende uma candeia para colocá-la debaixo do alqueire, mas no velador, e alumia a todos os que se encontram na casa. Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus.”

Wesley aborda o Sermão do Monte em duas perspectivas, ou visto como uma moeda de duas faces, mas onde uma face é necessária para estabelecer os contornos da figura da outra (interação entre as faces):
a) De um lado aparecem os fundamentos da religião do coração como necessários para uma autêntica religião e entrada no Reino de Deus.

b) Na outra face estão as exigências práticas do Reino de Deus, a práxis cristã do Reino e sua nova disposição de justiça (deve exceder a justiça da religião farisaica Mt 5.20).

Uma representação do Sermão do Monte apresentaria wesleyanamente os seguintes contornos:
1. A cena – Galiléia. Para Wesley, o cenário do SM é a do grande mestre que reúne seus discípulos ao pé da montanha (“Não só os discípulos, mas todos os que queriam aprender dele”, assinala, lembrando que se Mt 5.1 fala dos discípulos, mas Mt 7.28 fala de uma multidão).

2. O mestre – Ele “abre a sua boca” e passa a ensiná-los. “Abrir a boca” é uma expressão que aponta para uma autoridade, um oráculo, um mestre. O ensino revela uma autoridade acima da de Moisés e centra-se sobre a “felicidade do Reino”, “a arte plena da felicidade”, e “o único e verdadeiro método para alcançá-la”. Jesus é o “Salvador” e “Mestre” que ensina a verdadeira felicidade e como alcançá-la. Ao contrário dos que “procuram a felicidade onde ela não está”.

3. A retórica – Jesus não fala como legislador, nem como chefe, nem por um estilo empolado ou de retórica vazia, nenhuma incoerência, sem preconceitos. Ele fala com mansidão e amor, como “amigo e Salvador”. Segundo Wesley, o Sermão do Monte poderia ser paradigma, princípio para todo pregador cristão.

4. O tema – O tema é visto como um convite à verdadeira felicidade e santidade; a felicidade do Reino só é possível mediante a “verdadeira santidade cristã”. A exortação à santidade é acompanhada de critérios e advertências. Nesse contexto ganha relevo Mt 5.48: “sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito”, que Wesley desenvolverá como a doutrina da perfeição cristã.

A justiça do Reino é correlacionada com a “pureza de coração”. “Sem pureza de intenção nenhuma ação exterior é santa”. O Sermão do Monte ensina a pureza de coração e a pureza de intenção. Sem pureza de intenção não há justiça (righteousness) para Deus. A santidade é correlacionada, no outro pólo, com a felicidade.

Como um dos componentes da promessa do evangelho está a compreensão de que essas “leis” são plantadas no nosso entendimento, “escritas em nosso coração”(Hb 8.10), para que tenhamos “a mente de Cristo”(1Co 2.16). Essa é a “filosofia de nosso Mestre Celestial”: “Pecador, conhece-te a ti mesmo” (muito diferente daquela do oráculo grego que simplesmente propõe “conhece-te a ti mesmo”).

Para Wesley, o sumário de toda religião verdadeira foi dado, como vimos, pelo próprio Cristo no Sermão do Monte. Nele Jesus Cristo apresenta “o plano total de sua religião”, “um prospecto completo do cristianismo”, “uma visão geral do todo”. Esse sumário vem acompanhado do “caminho real que leva ao Reino”, “o caminho da salvação”. Outros caminhos são “inconsistentes” com a salvação. O discurso de Jesus seria para nós um aviso “contra as falsas glosas humanas da religião”.

“Veja – escreve Wesley – eu mostro aquilo pelo que sua alma tem ansiado. Veja o caminho que sua alma tanto procurou em vão; o caminho da felicidade, o caminho da calma, da feliz paz, do céu em cima e da terra em baixo”. Esse caminho do “método mais excelente”, “os vários estágios da caminhada do cristão”, os passos que o cristão “toma a caminho da terra prometida”.

Esse caminho faz Wesley dividir o Sermão do Monte em três partes:
a) o capítulo 5 é “um divino sumário da verdadeira religião”;
b) o capítulo 6 apresenta as normas de uma boa ação externa através da pura intenção do coração;
c) no capítulo 7 nos é dada uma série de advertências a respeito de tropeços e obstáculos.

“A mente de Cristo em nós”, “a imagem de Deus no coração”, é apenas o começo autêntico da fé cristã; esse começo bom deve desdobrar-se como uma semente: “a força divina não deve apenas permanecer em nós, deve crescer dia após dia”.

Escreve Wesley, que não podemos nos contentar com uma “religião boa como o mundo a vê”, e que pode ser resumida em:
(a) não fazer o mal; b) fazer o bem; c) usar os meios de graça”.
É necessário pensar a salvação como uma religião mais autêntica. A genuína religião de Jesus Cristo, a “religião do coração” é muito mais profunda que essa.
Para Wesley só a religião do coração é verdadeira: “essa religião interior traz a forma de Deus visivelmente impressa em nós” e “a viva impressão de sua estampa na pessoa e é fonte de beleza, de amor, e fonte original de excelência e de perfeição”.

Douglas Bataglião,21/02/2010 (Adaptado)

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