“ora,
destruídos os fundamentos, que poderá fazer o justo?” (Sl. 11.3).
Tenho observado que os “fundamentos”,
ou seja, as bases ou os valores cristãos que foram estabelecidos em nossa sociedade
ocidental têm sido destruídos por uma cosmovisão pós-moderna e pós-cristã, que
desde o século XVIII tem desprezado os paradigmas cristãos que edificaram
nossas vidas, nossas famílias, nossa educação, nossas instituições econômicas e
políticas. E estamos já colhendo os resultados desse abandono, com a degradação
social, a destruição dos valores bíblicos da família, a consolidação de uma
sociedade individualista, voltada para o sucesso pessoal em detrimento do
corporativo, e sexista – tendo o sexo como o centro do prazer e da realização,
não importando de que forma ele se realiza, o que promove as mais escabrosas
distorções, como perversões no relacionamento heterossexual, homossexualismo, bestialismo,
pedofilia, dentre outras.
Inserida nessa realidade, a Igreja
não poderia deixar de sofrer seus efeitos, sendo atacada pela secularização do
sagrado, pelo ecumenismo religioso, bem como pelo universalismo teológico, que
impõe uma unificação religiosa, com vistas à tolerância religiosa, que é
totalmente contrária à verdade de que Jesus Cristo é o único mediador entre
Deus e os homens. Nessa realidade de “destruição” de valores, as celebrações
cristãs históricas e tradicionais, como o Natal, a Páscoa, a ceia, o culto
simples e cristocêntrico, têm sido desfiguradas, destituídas de seu simbolismo
original, ou, por vezes, desprezadas por uma ala extremada da igreja, que as
considera “festas pagãs”.
Não podemos esquecer que a simbologia
é um dos instrumentos utilizados pelo Espírito Santo, nas Escrituras, para
comunicar verdades da Palavra de Deus. As festas cristãs fazem parte dessa
simbologia e tipologia, que celebram eventos da obra de Cristo, e devem ser
celebradas como instrumentos de ensino, doutrina e fixação das realidades e
verdades centrais da fé cristã, não devendo ser desprezadas nem desfiguradas
pela igreja atual, pois foram esses instrumentos que, durante a história da
igreja, também influenciaram uma cosmovisão cristã em nossa sociedade
ocidental.
Creio que a desfiguração ou
depreciação e abandono dessas celebrações é uma obra de Satanás, e também de
uma sociedade secularizada, que se tem afastado dos valores cristãos. E a Igreja,
com medo do mundanismo, acaba desprezando as oportunidades de propagar os
valores cristãos, por meio da celebração do Natal, da Páscoa, do Pentecostes
etc., tanto para os membros de suas comunidades como para a evangelização de
não cristãos. Em outras palavras, a Igreja acaba “coando mosquitos e engolindo
camelos” (Mt. 23.24), perdendo excelentes oportunidades de redimir a cultura
para uma visão cristocêntrica.
Voltemos a celebrar nossas festas
cristãs, sim! Obviamente, sem a deturpação que elas vêm sofrendo – motivadas
por propósitos mercadológicos que as descaracterizam. Mas voltemos à Palavra de
Deus, com temor e reverência, e com a liberdade dos filhos de Deus, de adorá-lO
com todas as formas de arte, que foram criadas, também, para o louvor da Sua glória.
E voltemos a declarar aos irmãos e aos não cristãos: “Feliz Natal!”, “Feliz
Páscoa!”, “Feliz Pentecostes!”, com a mensagem de que esta “felicidade” é
propósito de Deus, revelado nas Escrituras e consumado pela obra de encarnação,
vida, morte e ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. Amém!
Douglas A. Bataglião